Setor de Entretenimento no Brasil

Visão Geral do Setor

O setor de entretenimento ao vivo é bastante amplo e engloba (i) os provedores de conteúdos diversos, (ii) os promotores de eventos, que podem ser promotores de espetáculos, (iii) os operadores de casa de espetáculos e de serviço de estacionamento, (iv) os operadores de alimentação, bebidas e produtos promocionais e (v) operadores da comercialização de ingressos até o público final.

O público final é representado por pessoas que podem ter distintas características sociodemográficas e preferências, conforme o tipo de conteúdo oferecido.

A indústria de entretenimento promove uma grande variedade de eventos, sendo que os principais segmentos de entretenimento ao vivo são os espetáculos musicais, teatrais, exposições de arte e eventos esportivos.

Estrutura da Indústria de Entretenimento ao Vivo

Os provedores de conteúdo podem ser subdivididos em três componentes: (i) os managers dos artistas; (ii) os agentes que representam e negociam em nome dos artistas, cobrando dos artistas comissões sobre as diversas receitas originadas e (iii) os próprios artistas. Já os promotores de eventos podem desempenhar diferentes funções, cada qual com drivers de valor específicos:

Promoção de Eventos: responsáveis pela organização e promoção do evento, têm como driver de valor o resultado da venda de ingressos contra custos de promoção e contratação do artista;

Operação de bilheteria: responsáveis pela administração da venda de ingressos que pode incluir comercialização via internet, pontos de venda, bilheterias, entre outros. As principais fontes de receitas desta atividade são as taxas de conveniência e entrega, bem como comissões cobradas sobre o preço dos ingressos;

Comercialização de alimentos, bebidas e produtos promocionais (merchandising): dentro das nossas casas de espetáculos e em eventos externos realizados em imóveis de terceiros, principalmente em grandes espetáculos de estádios e em espetáculos familiares indoor.

Operação de Venues e serviços de estacionamento: operacionalização das venues, incluindo sistemas de iluminação, som e vídeo. Resultado econômico da atividade é função das receitas de aluguel e estacionamento deduzido de custos e despesas associados;

Venda de Patrocínio: exposição da marca de parceiros em toda cadeia de valor do setor de entretenimento ao vivo, podendo ter um ou mais patrocinadores em um ou mais elos da cadeia. Atualmente é grande o número de empresas que associam suas marcas a eventos musicais, esportivos, culturais e, mais recentemente, de responsabilidade socioambiental. O resultado dessa atividade é extremamente importante para a viabilidade de um determinado evento, sendo que algumas vezes a decisão de contratação de um evento é determinada pela possibilidade de associação com um patrocinador. A receita com patrocínio pode estar presente na promoção dos eventos, na comercialização de alimentos, bebidas e merchandising e na operação de venues e estacionamento.

Transmissão via plataformas de Streaming ou canais de Televisão: a popularização de plataformas de streaming, bem como o aumento da oferta de festivais de música ao vivo possibilitam a transmissão de conteúdos através de plataformas especializadas ou canais de televisão, que pagam pelos direitos de transmissão.

Mercado de Entretenimento

O mercado de entretenimento em geral é bastante expressivo e vem apresentando elevadas taxas de crescimento desde 2000. Segundo dados da PwC, em 2021, a receita total global do mercado de mídia e entretenimento atingiu cerca de US$ 2,34 trilhões, com um CAGR previsto para 2026 de 4,6% quando comparado a 2021, com estimativa de que receita global de música ao vivo supere os níveis pré-pandemia em 2024. A previsão para 2026 é que se atinja US$ 2,93 trilhões de receita global total.

Dinâmica do Mercado de Entretenimento

A dinâmica do mercado de entretenimento na América do Sul é diferente da dinâmica de países desenvolvidos. De forma geral as maiores companhias atuantes em mercados desenvolvidos, como a Live Nation e AEG Live possuem escala econômica que lhes permite negociar conteúdos e produzi-los sem a necessidade de parcerias com outros promotores. Já em mercados em desenvolvimento, os provedores de conteúdo tanto locais como internacionais não possuem escala e/ou estrutura física para promover seus próprios conteúdos e com isso buscam formar parcerias com promotores de eventos locais, que tenham capacidade de execução e capacidade financeira comprovadas, de forma a possibilitarem eventos de qualidade com escala econômica viável.

Essas parcerias permitem que provedores de conteúdo tenham acesso a mercados com elevado potencial de retorno e que os promotores de eventos locais ganhem acesso a conteúdo de qualidade que, no geral, apresentam demanda reprimida em seus mercados.

A maioria das empresas de entretenimento opera venues em grandes cidades populosas, sendo capazes de atrair um grande volume de espectadores. O investimento público também pode influenciar na localização destas empresas, como, por exemplo, cidades que queiram melhorar o conhecimento das artes e vida cultural de sua população podem incentivar financeiramente a criação ou mudança de locação de uma empresa.

Em relatório publicado pela IBISWorld (“Promoters of Performing Arts, Sports and Similar Events with Facilities in the US”), estima-se que grande parte dos consumidores na área de entretenimento ao vivo é composta por famílias, sendo que nos Estados Unidos esta participação corresponde a 90% e a maioria possui computador com acesso à internet, canal de venda que representa dois terços das vendas de ingressos naquele país. Os consumidores variam consideravelmente em termos de idade e características, já que a indústria promove grande variedade de eventos. Por exemplo, consumidores que atendem eventos de esportes são geralmente do sexo masculino e mais jovens do que consumidores que atendem eventos relacionados a arte.

 

Principais Segmentos da Indústria de Entretenimento ao Vivo

O setor de entretenimento ao vivo é formado principalmente pelos seguintes segmentos: (i) espetáculos musicais; (ii) espetáculos familiares e teatrais; e (iii) exposições de artes.

O mercado mundial de entretenimento ao vivo apresenta números expressivos, sendo que no ano de 2019, considerando apenas os 16 maiores promotores de eventos, foram comercializados cerca de 95 milhões de ingressos, segundo ranking publicado pela Pollstar. Os anos de 2020 e 2021, em função dos impactos causados pelas restrições impostas pelos governos à promoção de eventos para combater os efeitos da pandemia de COVID-19, foram anos atípicos para o setor.

Ranking Pollstar – Maiores promotores do mundo por número de ingressos vendidos (milhões) em 2019

Espetáculos Musicais

O segmento de espetáculos musicais inclui a sua promoção e/ou produção. Frequentemente, para iniciar espetáculos ao vivo ou turnês, os artistas contratam diretamente os agentes para representá-los por um determinado período. Os agentes entram em contato com promotores, os quais irão contratar com ele ou diretamente com o artista para promover os espetáculos. Os artistas são pagos por seus agentes de inúmeras maneiras, podendo incluir nas formas de pagamento garantias de quantias fixas e/ou uma porcentagem da venda de ingressos, ou até mesmo uma porcentagem dos lucros. Além disso, os promotores podem reembolsar os artistas por despesas de produção, como som e iluminação.

Ao longo dos últimos anos vem ocorrendo uma mudança significativa na maneira como os artistas musicais auferem as suas receitas. As principais fontes de receita da indústria musical são as turnês, vendas de músicas em mídia e royalties.

Nota-se uma tendência do aumento da receita via turnês em detrimento da receita via comercialização de músicas. Em 2004, o total de receita com venda de músicas em mídia representava cerca de cinco vezes o total de receita com turnês, sendo que em 2009, essa relação caiu para menos de duas vezes. Em 2011, as turnês passaram a representar maior volume de receita, com aproximadamente 10% a mais que a venda de músicas gravadas, o que aumentou para 31% em 2011 e atualmente, as turnês representam uma receita 45% maior que a da música gravada, já que artistas foram pressionados a aumentar o número de atuações ao vivo, a fim de compensar a diminuição das receitas de venda de músicas. Essa tendência está relacionada à maior facilidade de obter e escutar as músicas de seus artistas preferidos por meio da internet e streaming, por exemplo.

O processo de queda de receita da mídia física iniciou com o surgimento das primeiras plataformas de compartilhamento, com destaque para o Napster, e se intensificou com a busca das novas gerações por experiências cada vez mais intensas em detrimento da compra de bens materiais. O gráfico abaixo mostra a evolução do mercado dos Estados Unidos, de 1950 a 2015, claramente demonstrando a tendência de transição da mídia física para o ao vivo e digital:

Evolução da indústria musical dos Estados Unidos por tipo de receita (1950-2021)

 

Em 2019, para o grupo de artistas como KISS, The Rolling Stones, Justin Timberlake, Elton John e Billy Joel, a receita com turnês representou a m maior parte de sua receita total entre turnês e venda de álbuns nos EUA, conforme ilustrado no gráfico abaixo:

Ranking Billboard – Breakdown dos ganhos dos artistas nos EUA em 2019

O segmento de espetáculos musicais tem crescido no Brasil nos últimos anos. As empresas investem em formas alternativas para atingir o consumidor, como o brand experience, onde é feita uma interação entre uma marca e o público, criando um vínculo e fidelização do consumidor. Por esta razão, empresas têm o interesse em continuamente investir em espetáculos musicais como uma forma de marketing da marca.

Principais Casas de Espetáculos na América do Sul:

São Paulo Vibra São Paulo, Espaço Unimed, Tokio Marine Hall, Cine Joia, Vila Country e Audio
Rio de Janeiro Qualistage, Circo Voador, Jeunesse Arena, Vivo Rio e Fundição Progresso
Brasília Centro de Convenções Ulysses Guimarães e Ginasio Nilson Nelson
Curitiba Live Curitiba, Teatro Positivo e Teatro Guaira
Salvador Bahia Café Hall, Museu do Ritmo e Concha Acústica
Belo Horizonte ExpoMinas, Km de Vantagens Hall e Mega Space
Recife Classic Hall, Baile Perfumado e Centro de Convenções de Pernambuco
Porto Alegre Bar Opinião, Auditorio Araujo Vianna, Bourbon Shopping Country e Pepsi On Stage
Buenos Aires Teatro Opera, Luna Park, Estadio Obras Sanitarias, Teatro Lola Menbrives e Gran Rex
Santiago Movistar Arena e Teatro Caupolican

Espetáculos Teatrais e Entretenimento Familiar

Espetáculos teatrais consistem em produções de musicais já existentes, trabalhos dramáticos e no desenvolvimento de novos trabalhos. Os produtores de musicais primeiramente adquirem os direitos para produzi-los por cerca de três a cinco anos, devendo pagar royalties pela sua utilização. Os produtores ficam responsáveis pela venda de ingressos, contratação de pessoal, divulgação e pagamento de uma caução aos produtores, a qual será reembolsada juntamente com as despesas incorridas com a venda de ingressos. Uma vez que os musicais requerem grandes investimentos de tempo e dinheiro se comparados às produções dramáticas, geralmente estão mais inclinados a se tornarem turnês.

Na América do Norte, as receitas provenientes das produções da Broadway têm apresentado crescimento médio anual de cerca de 6% ao longo dos últimos dez anos, conforme demonstrado no gráfico abaixo:

Receita Total – Produções da Broadway na América do Norte (US$ milhões)
CAGR 09-19: 6,01%

Fonte: Broadway League.

Devido aos impactos da pandemia de COVID-19 nas temporadas 2019-20, 2020-21 e 2021-22, a comparabilidade dos dados é prejudicada.

No Brasil, as produções musicais são em sua maioria internacionais e têm como público-alvo a família. O segmento de espetáculos teatrais tem ganhado força com estas grandes produções estrangeiras que são trazidas ao país, como, por exemplo, Wicked, Mudança de Hábito, O Rei Leão, Les Misérables, O Fantasma da Ópera, A Bela e a Fera, Miss Saigon, Chicago, A Família Addams e Mamma Mia!.

Em razão da expansão deste segmento, o número de casas de teatro aumentou e as existentes passaram por reformas para comportar espetáculos internacionais e para atender a um público que se tornou cada vez mais exigente.

Principais Teatros na América do Sul:

São Paulo Teatro Renault, Teatro Santander, Teatro Net, Teatro Municipal de São Paulo, Teatro Alfa, Teatro Procópio Ferreira, Teatro Sérgio Cardoso, Teatro Bradesco, Teatro FAAP, Teatro da Universidade Católica de São Paulo (TUCA), Teatro das Artes e Teatro Shopping Frei Caneca
Rio de Janeiro Teatro Carlos Gomes, Teatro do Leblon, Teatro Oi Casagrande, Cidade das Artes – Grande Sala, Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Teatro Vanucci, Teatro Dos Quatro e Teatro Clara Nunes
Brasília Teatro Nacional Cláudio Santoro
Curitiba Teatro Guairá, Ópera de Arame, Teatro do Sesc, Teatro HSBC e Teatro Positivo
Salvador Teatro Castro Alves
Belo Horizonte Minascentro e Palácio das Artes
Recife Teatro Guararapes
Porto Alegre Auditório Araújo Vianna, Teatro Sesi – Porto Alegre e Teatro do Bourbon Country
Buenos Aires Teatro Opera, Teatro Maipo, Teatro Nacional Cervantes, Teatro Colon, Gran Rex, Teatro Coliseo
Santiago Teatro Caupolican

(i) Visão Geral do Setor na América do Sul e Oportunidades de Crescimento

Em 2020, no mercado da América do Sul, considerando-se os países que temos presença: Brasil, Argentina e Chile, o número de habitantes totalizava 276,9 milhões com um PIB total de US$ 2,08 trilhões, representando um grande potencial para a indústria de entretenimento.

Na América do Sul, o mercado de entretenimento em geral tem apresentado um crescimento ainda mais forte do que o crescimento médio dos demais países. No Brasil, entre 2017 e a projeção da PwC (19° Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia 2018-2022) para 2022, a receita total com mídia e entretenimento em dólares apresenta um CAGR de 5,3%, saindo de US$ 49 bilhões em 2017 para US$53 bilhões em 2022. Já na Argentina, a receita total com mídia e entretenimento tem projeção de US$11,8 bilhões em 2021 (CAGR 2016-2021 = 5,9%).

(ii) Condições de Competição nos mercados

Cenário Competitivo e Barreiras de Entrada no Setor de Entretenimento

O mercado da América do Sul de entretenimento ao vivo é bastante fragmentado em relação à quantidade de competidores em cada atividade/fase de realização do evento, mas relativamente consolidado do ponto de vista de empresas que possuem domínio de conteúdos de qualidade e principais venues. Por exemplo, acreditamos que não há nenhuma outra empresa com modelo de negócios totalmente integrado, verticalizado e com o volume de conteúdo de qualidade que possuímos. Desta forma, cada etapa de realização do espetáculo artístico/cultural (promoção, produção, gestão da venda de ingressos, exploração das venues, venda de alimentos e bebidas etc.) engloba diferentes competidores de nicho, em cada um dos países.